Quem sou eu

Jornalista e pesquisador de histórias em quadrinhos, dividido entre Natal e João Pessoa por tempo indeterminado.

11.17.2011

oswaldo lamartine

Conhecer Oswaldo Lamartine de Faria foi uma das boas coisas que o trabalho como jornalista me proporcionou. Além de grande escritor, e aqui o grande é até um adjetivo que diz pouco sobre sua escrita, era um 'figura humana' (eita, clichezinho sem vergonha) ímpar.

As atenções se voltam mais uma vez para a obra de Oswaldo Lamartine de Faria com esta edição do Festival Literário de Pipa, que começa hoje. É ótimo, mas é pouco. Oswaldo devia ser lido todo dia, que nem ladainha de missa.

Enquanto cascavio aqui meus alfarrábios atrás de uns textos que escrevi sobre o cabra, fiquem com o discurso que o próprio apresentou à UFRN, ao receber o título de doutor honoris causa daquela instituição. Vale lembrar que ele sequer chegou a possuir curso superior. Era um sem-diploma.

***


À UFRN, na pessoa do seu reitor Dr. Ivanildo Rêgo, professores, funcionários e alunos.

Perdi horas de sono e de sossego tentando entender a razão de tudo isso.

De primeiro, cuidei ter sido pelos descaminhos dos homens neste mundo de ranger dentes, desassossegado que nem as ondas do mar. Depois, quem sabe, o afago de vosmecês, no adeus desse meu imerecido viver. Sei lá. É que a balança do julgamento dos amigos costuma ser manca.

E não é astúcia, pantim, nem cavilação, pois o que botei no papel foram apenas momentos do dia-a-dia do nosso sertanejo.

Convivi com alguns deles debaixo das mesmas telhas – tenho repetidamente confessado.

Mestre Pedro Ourives e seu filho Chico Lins – magos do couro, zelosos e ranzinzas, da escolha do couro-verde ao derradeiro nó-cego da costura. Ramiro e Bonato Dantas, pescadores d’água doce e memorialistas. Zé Lourenço, tora de homem, analfabeto, cujos instrumentos de trabalho se resumiam em um nível de pedreiro e um novelão de cordão. Pois bem, apenas com eles, levantou 640 metros de parede do açude Lagoa Nova sem deixar um caculo nem uma barroca – o que deixou o engenheiro do DNOCS de queixo caído.

Olinto Ignácio, rastejador e vaqueiro maior das ribeiras de Camaragibe. Vi, um dia, ele se acocorar na beira do caminho e ler no chão da terra: “Passou fulano, beltrana e uma menina. É que a gente dessa terra tanto faz eu espiar a cara cumo o rastro...” E todos já envultados com a Caetana.

Daí eu repetir: é mais deles do que meu esse título.

Mesmo assim, encabulado, areado e zonzo, tenho de confessar: não sou soberbo nem ingrato.

Agradeço a vmc e, mais ainda, ao doutor Reitor – sertanejo das Terras do Pôr-do-sol. Onde, naqueles ontens, os condutores das boiadas ferravam o tronco de um pé-de-pau onde se arranchavam. Coisas de um Sertão de Nunca-Mais. Tempos do imperador velho. Mas isso é outra conversa.

Boa noite. Façam, agora, como manda aquele menino:

Batam palmas com vontade,
Faz de conta que é turista...

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