Era uma vez um garoto. Seu nome era Francisco. Francisco Bento. Mas todo mundo na bocada só o conhecia por Chico. Ele era famoso por bater carteiras no Centro. Também tinha um fraco por relógios e pulseiras. Até que um dia, por descuido, se deixou encurralar por uma pequena multidão. Chico apanhou muito antes que a polícia chegasse para levá-lo.
- Idade?
- Tô com 17.
- Tem vergonha na cara não, moleque?
- Tenho não, sinhô. Tenho fome.
***
Era uma vez uma garota. Seu nome era Mafalda. Após assaltar uma farmácia em Nova Parnamirim, ela, que fugia a pé, foi logo alcançada pelos policiais. Quando viu as armas apontadas em sua direção, nem pensou em puxar o 38 que trazia consigo.
- Idade?
- 14.
- E isso aqui no seu ombro, é uma cicatriz?
- É, sim, senhor.
- Foi o quê?
- É marca de bala, senhor.
- Bala perdida?
- Não. Bala achada mesmo.
***
Era uma vez três garotos. Huguinho, Zezinho e Luizinho tocavam o terror na Ocidental de Baixo. O primeiro tinha 15 anos, os outros, 14. Só andavam juntos e pareciam até ser da mesma família. Naquele quarteirão, ninguém podia vender bagulho. Só eles. Quando a polícia estourou a boca, Luizinho levou um tirambaço na cara e por ali mesmo ficou. Os outros dois foram algemados na mala do camburão.
- Eu te disse que crack era coisa de otário, num disse?
- É, mas eu curto.
- Senhor, diz pra ele: crack não é coisa de otário?
- É sim, moleque.
- Tá vendo? Eu disse a tu: o negócio é cheirar pó, mané.
***
Era uma vez um garoto. Era uma vez uma garota.
Era uma vez.
Era uma vez.
Era uma vez.
Nenhum comentário:
Postar um comentário