Desempacotando uns guardados – e a vida da gente vai a cada dia se perdendo em caixas e caixas que vão sendo empilhadas, às vezes em algum quarto quente e úmido e às vezes na memória mesmo – encontrei uma dessas sacolinhas de loja cheias de uns papéis velhos e amarelados.
Lá dentro, vários blocos de anotações, vindos das diferentes redações onde trabalhei, fotos agora antigas e fitas que jamais degravarei, uma vez que meu gravador também estava ali, do lado, despedaçado Deus sabe como.
Parei um pouco de (tentar) organizar as estantes e fui rever aqueles papéis que vinham de lugares como o Novo Jornal, o Nominuto.com e o Diário de Natal. Tinha também anotações esparsas de alguns frilas, ideias de reportagens que nunca rolaram, planos que não sobreviveram àquela semana que os viu nascer. Coisas de dois, quatro e até seis anos passados.
Eu e Oswaldo Lamartine. Notem, ao fundo, o poeta Volonté enxugando um uisquinho |
Na época, acho que 2005, não sei ao certo, não conhecia Oswaldo Lamartine pessoalmente, só de ouvi falar e pelos livros. A fragilidade daquele homem, que precisava preservar sua saúde com um lenço em volta do pescoço por causa do ar condicionado do shopping, era meio que comovente. Só depois, nas oportunidades que tive de conversar com ele, pude perceber que havia também algo de força naqueles ossos.
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Dois anos depois, fui à Câmara Municipal de Natal para cobrir a entrega do título de cidadão natalense a Ariano Suassuna. Lá, encontrei, claro, Carlos Newton Junior, fiel escudeiro do escritor paraibano, e também o grande, imenso Deífilo Gurgel.
Ele ia ler, na tribuna, uma homenagem a Ariano, para marcar a ocasião. Mas sabe como são os poetas... Se lembro bem da nossa conversa, no dia anterior, num lampejo, Deífilo decidiu que leria um poema. E aí passou o dia trabalhando o texto para apresentá-lo a Ariano. Momentos antes da cerimônia, conseguimos acesso à ante-sala onde estavam Ariano, Carlos Newton e Deífilo e conversamos um pouco com eles. Foi quando Deífilo falou do poema.
O poema de Deífilo. Clique para ampliar - eu ia transcrever mas tem uma palavrinha na segunda estrofe que não consigo entender, então não quis correr o risco de adulterar as palavras do poeta |
Deífilo, para mim, era uma espécie de Cecília Meireles da literatura potiguar, pelo resgate anacrônico que promoveu do soneto quando o chique era ser moderno. Essa forma poética também é praticada com maestria por Suassuna. Então, a homenagem de Deífilo era um casamento de Tomé com Bebé. Tudo a ver.
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Tinha também umas fotos de Elino Julião. Mas Elino é outra história, que fica para outro dia.
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Abimael queria que a Ponte tivesse o nome de Manoel Dantas. Para mim, tudo devia ter o nome de Manoel Dantas. |
Abimael Silva, que perde o amigo, mas não perde o pitaco, batucava qualquer coisa na sua Olivetti quando cheguei no Sebo Vermelho. Aí já jogou a convocatória: ‘Alex, ta indo pro Diário? Leva isso aqui para Moisés publicar lá’. Obviamente, fiquei encarregado de digitar o artigo quando cheguei na redação... E não é que o original, no qual o judeu defendia o nome de Manoel Dantas para a ponte, não tava aqui guardado também? (Aliás, acho Manoel Dantas um nome do caralho praquela ponte, mas Newton Navarro também tá valendo.)
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Saudadezinha besta.
* Olha que legal. Lívio Oliveira, que teve uma participação fantasmagórica no episódio do título para Ariano Suassuna, mandou e-mail relembrando que, na verdade, foi ele quem escreveu em bloquinho o poema de Deífilo Gurgel. Passando por aqui pelo blog, mandou e-mail resolvendo este pequeno mistério memorioso.
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