Quem sou eu
- Alex de Souza
- Jornalista e pesquisador de histórias em quadrinhos, dividido entre Natal e João Pessoa por tempo indeterminado.
7.26.2012
movimento rápido dos olhos
Jornalista e pesquisador de histórias em quadrinhos, dividido entre Natal e João Pessoa por tempo indeterminado.
7.12.2012
kháyyám
1
Todos sabem
que meus lábios nunca
murmuraram uma oração.
Não procurei nunca
dissimular os meus pecados.
Ignoro se existem realmente
uma Justiça e uma
Misericórdia.
Mas, se existem, não
desespero delas: fui sempre
um homem sincero.
***
2
Que vale mais?
Fazer exame da consciência
sentado na taverna,
ou prosternado na mesquita?
Não me interessa saber
se tenho um Senhor
e o destino que me reserva.
***
5
Procura ser
feliz ainda hoje,
pois não sabes o que te reserva
o dia de amanhã.
Toma uma urna cheia de
vinho, senta-te ao clarão do
luar e monologa: "Talvez
amanhã a lua me procure
em vão."
***
7
O Corão,
chamado livro supremo,
pode ser lido de vez em
quando; mas ninguém se
deleita na sua leitura,
sempre que o lê.
Na taça cheia de vinho está
gravado um texto, de tão
adorável sabedoria, que a
coca, à falta dos olhos,
lê sempre com delícia.
***
13
Deixemo-nos
de palavras vãs.
Levanta-te e dá-me
um pouco de vinho.
Esta noite tua boca é a mais
bela rosa do mundo e basta
para todos os meus desejos.
Dá-me vinho.
Que ele seja corado como as
tuas faces, e o meu remorso
será leve como as tuas tranças.
***
17
Os dias
passam rápidos
como as águas do rio
ou o vento do deserto.
Dois, há, em particular,
que me são indiferentes:
o que passou ontem,
o que virá amanhã.
***
19
Kháyyám!
Tecendo a tenda da sabedoria
caíste na fogueira do Dor
e ficaste reduzido a cinzas.
O anjo Azrael cortou as
cordas da tenda e a Morte
vendeu-a por uma canção.
***
22
Na primavera,
gosto de sentar-me
à orla de um campo florido.
Bebo o vinho que me
oferece uma linda rapariga e
não cuido de minha salvação.
Se tal pensamento me
ocupasse, eu valeria menos
que um pobre cão.
***
23
O imenso
mundo: um grão de
areia perdido no espaço.
Toda a ciência
dos homens: palavras.
Os povos, os animais e as
flores dos sete climas:
sombras.
O resultado de tua
meditação: nada.
***
36
Velho mundo
que atravessa
a galope o cavalo branco
e negro do Dia e da Noite,
és o palácio triste onde
cem Djemchids sonharam com
a glória e cem Bahrâms
sonharam com o amor, e todos
despertaram chorando.
***
63
Não temo
a Morte: prefiro
esse fato inelutável ao
outro que me foi imposto
no dia do meu nascimento.
Que é a vida?
Um bem que me confiaram
se me consultar e que
restituirei com indiferença.
***
75
Um tal
odor de vinho
emanará do meu túmulo, que
embriagará os viandantes.
Uma serenidade tal
pairará sobre a minha
sepultura, que os amantes não
poderão afastar-se dela.
***
87
Escuta um
grande segredo:
quando a primeira aurora
iluminou o mundo, Adão já
era uma criatura dolorosa,
que pedia a noite,
que ansiava pela morte.
***
94
Eis a verdade
única: - somos
os peões da misteriosa
partida de xadrez, jogada
por Deus, que nos desloca,
nos pára, nos põe mais
adiante, e depois nos recolhe
um a um à caixa do Nada.
***
96
Os sábios
não te ensinaram
coisa alguma, mas a carícia
dos longos cílios de uma
mulher poderá revelar-te
a felicidade.
Não esqueças que os teus
dias estão contados e que
serás em breve
a presa da terra.
Compra o vinho e, recolhido
ao teu canto, busca
nele o consolo.
***
105
A abóbada
celeste sob a qual
vivemos é comparável a uma
lanterna mágica,
de que o sol é a lâmpada.
E nós somos as figurinhas
que se movem.
***
116
O vinho tem
a cor das rosas.
O vinho não é talvez
o sangue das vinhas,
mas dos rosais.
Esta taça talvez não seja
de cristal, mas do próprio
azul do céu coagulado.
A noite é talvez
a pálpebra do dia.
***
136
Senhor!
Armaste mil ciladas
invisíveis no caminho
que seguimos, e disseste:
"Desgraçado o que não as evitar."
Tu vês tudo.
Tu sabes tudo.
Nada acontece sem a tua
permissão. Seremos, pois,
responsáveis
por nossos pecados?
Farás um crime
da minha revolta?
***
144
Só vês
as aparências
das coisas e dos seres.
Sabes que és ignorante, mas
não queres renunciar ao amor.
Lembra-te de que Deus fez
o amor como fez certas
plantas venenosas.
***
148
Recebi o
golpe que esperava.
Abandonou-me a
bem-amada.
Quando eu a possuía,
era-me tão fácil desprezar o
amor e exaltar todas
as renúncias!...
Junto de tua amada,
Kháyyám, como estavas só!
Sabes?
Ela se foi para que tu
possas refugiar-te nela...
***
Trechos do Rubáiyát, de Omar Kháyyám (1040 - 1125, ou 1048-1131 pela wikipedia), na tradução de Otávio Tarquínio de Sousa (Livraria José Olympio Editora, 1979, 15ª edição).
***
Para meu pai, Carlão.
Todos sabem
que meus lábios nunca
murmuraram uma oração.
Não procurei nunca
dissimular os meus pecados.
Ignoro se existem realmente
uma Justiça e uma
Misericórdia.
Mas, se existem, não
desespero delas: fui sempre
um homem sincero.
***
2
Que vale mais?
Fazer exame da consciência
sentado na taverna,
ou prosternado na mesquita?
Não me interessa saber
se tenho um Senhor
e o destino que me reserva.
***
5
Procura ser
feliz ainda hoje,
pois não sabes o que te reserva
o dia de amanhã.
Toma uma urna cheia de
vinho, senta-te ao clarão do
luar e monologa: "Talvez
amanhã a lua me procure
em vão."
***
7
O Corão,
chamado livro supremo,
pode ser lido de vez em
quando; mas ninguém se
deleita na sua leitura,
sempre que o lê.
Na taça cheia de vinho está
gravado um texto, de tão
adorável sabedoria, que a
coca, à falta dos olhos,
lê sempre com delícia.
***
13
Deixemo-nos
de palavras vãs.
Levanta-te e dá-me
um pouco de vinho.
Esta noite tua boca é a mais
bela rosa do mundo e basta
para todos os meus desejos.
Dá-me vinho.
Que ele seja corado como as
tuas faces, e o meu remorso
será leve como as tuas tranças.
***
17
Os dias
passam rápidos
como as águas do rio
ou o vento do deserto.
Dois, há, em particular,
que me são indiferentes:
o que passou ontem,
o que virá amanhã.
***
19
Kháyyám!
Tecendo a tenda da sabedoria
caíste na fogueira do Dor
e ficaste reduzido a cinzas.
O anjo Azrael cortou as
cordas da tenda e a Morte
vendeu-a por uma canção.
***
22
Na primavera,
gosto de sentar-me
à orla de um campo florido.
Bebo o vinho que me
oferece uma linda rapariga e
não cuido de minha salvação.
Se tal pensamento me
ocupasse, eu valeria menos
que um pobre cão.
***
23
O imenso
mundo: um grão de
areia perdido no espaço.
Toda a ciência
dos homens: palavras.
Os povos, os animais e as
flores dos sete climas:
sombras.
O resultado de tua
meditação: nada.
***
36
Velho mundo
que atravessa
a galope o cavalo branco
e negro do Dia e da Noite,
és o palácio triste onde
cem Djemchids sonharam com
a glória e cem Bahrâms
sonharam com o amor, e todos
despertaram chorando.
***
63
Não temo
a Morte: prefiro
esse fato inelutável ao
outro que me foi imposto
no dia do meu nascimento.
Que é a vida?
Um bem que me confiaram
se me consultar e que
restituirei com indiferença.
***
75
Um tal
odor de vinho
emanará do meu túmulo, que
embriagará os viandantes.
Uma serenidade tal
pairará sobre a minha
sepultura, que os amantes não
poderão afastar-se dela.
***
87
Escuta um
grande segredo:
quando a primeira aurora
iluminou o mundo, Adão já
era uma criatura dolorosa,
que pedia a noite,
que ansiava pela morte.
***
94
Eis a verdade
única: - somos
os peões da misteriosa
partida de xadrez, jogada
por Deus, que nos desloca,
nos pára, nos põe mais
adiante, e depois nos recolhe
um a um à caixa do Nada.
***
96
Os sábios
não te ensinaram
coisa alguma, mas a carícia
dos longos cílios de uma
mulher poderá revelar-te
a felicidade.
Não esqueças que os teus
dias estão contados e que
serás em breve
a presa da terra.
Compra o vinho e, recolhido
ao teu canto, busca
nele o consolo.
***
105
A abóbada
celeste sob a qual
vivemos é comparável a uma
lanterna mágica,
de que o sol é a lâmpada.
E nós somos as figurinhas
que se movem.
***
116
O vinho tem
a cor das rosas.
O vinho não é talvez
o sangue das vinhas,
mas dos rosais.
Esta taça talvez não seja
de cristal, mas do próprio
azul do céu coagulado.
A noite é talvez
a pálpebra do dia.
***
136
Senhor!
Armaste mil ciladas
invisíveis no caminho
que seguimos, e disseste:
"Desgraçado o que não as evitar."
Tu vês tudo.
Tu sabes tudo.
Nada acontece sem a tua
permissão. Seremos, pois,
responsáveis
por nossos pecados?
Farás um crime
da minha revolta?
***
144
Só vês
as aparências
das coisas e dos seres.
Sabes que és ignorante, mas
não queres renunciar ao amor.
Lembra-te de que Deus fez
o amor como fez certas
plantas venenosas.
***
148
Recebi o
golpe que esperava.
Abandonou-me a
bem-amada.
Quando eu a possuía,
era-me tão fácil desprezar o
amor e exaltar todas
as renúncias!...
Junto de tua amada,
Kháyyám, como estavas só!
Sabes?
Ela se foi para que tu
possas refugiar-te nela...
***
Uma cruza de Bukowski com algum outro cabeção capaz de resolver equações juntando uma hipérbole e um círculo |
***
Para meu pai, Carlão.
Jornalista e pesquisador de histórias em quadrinhos, dividido entre Natal e João Pessoa por tempo indeterminado.
7.06.2012
billie
Jornalista e pesquisador de histórias em quadrinhos, dividido entre Natal e João Pessoa por tempo indeterminado.
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